“Fuja de áreas turísticas”, uma ova! Minha (nova!) experiência em Paris.
“Em time que está ganhando não se mexe”. Que atire a primeira pedra quem nunca se agarrou no ditado popular a fim de justificar aquela dificuldade de “desapegar” de hábitos antigos. Eu, como boa canceriana, sou cheia de hábitos, de apegos… um deles o Quartier Latin, em Paris. Sabe aquele achado que dá super certo? Tão certo que você não hesita na hora de repetir, de novo, e de novo, e de novo… O Quartier Latin, bairro agitado, cheio de vida e próximo a inúmeros pontos de interesse na cidade, foi assim pra mim.
Encontrei um bom hotel, encontrei bons restaurantes, aprendi quais eram as lojinhas de souvenir que valiam a pena, quais eram as que cobravam um rim e meio por um imã de geladeira. Depois de três vezes ali, sabia até alguns cardápios de cor e salteado. O mapa, então, nem se fala… aprendi os caminhos, decorei os nomes das ruas e passeava por ali como se nunca houvesse vivido em lugar diferente. Era seguro, era confortável. E, meses atrás, quando me peguei planejando nossa quarta ida a Paris um único pensamento veio à tona: “é hora de mudar, deixar a zona de conforto e conhecer uma nova Paris, vamos ficar em outro lugar!”. Afinal de contas, se viagem pressupõe descobrimento, era preciso abandonar as velhas certezas e dar lugar a novas descobertas.
“Onde ficar em Paris”? A pergunta que havia permeado meus planejamentos de viagem em 2009, voltava agora 8 anos e 3 férias parisienses depois. E você pode achar que, depois de tanta intimidade com a Cidade Luz, foi fácil responde-la dessa vez… foi nada!
Em primeiro lugar, nossas expectativas eram altas… quem já se hospedou no Quartier Latin sabe o quão prática e preciosa é aquela localização. Estávamos acostumados a ter de um tudo na porta do hotel. Qualquer necessidade era resolvida logo a poucos passos de nós. E, mais importante numa viagem, quase todos os roteiros podiam ser feitos a pé a partir dali. Era o mínimo que eu buscava em uma nova localização. Se era pra mudar, que fosse pra melhor, certo?
O segundo ponto que dificultou nossa escolha foram os preconceitos. Opiniões que construímos ao longo dos últimos anos, a partir das experiências que havíamos tido na cidade. Opiniões de quem passa pelos bairros, observa, mas não os vivencia realmente. E, claro, opiniões firmes de quem lê muito sobre viagens por aí, ouve um sem número de conselhos e sabedorias… e eu que sempre defendi aquele papo de “dê ouvido, mas não se limite…”, confesso, era cheia delas.
E foi assim que Paris quebrou a minha cara em mil pedacinhos. Foi assim que ela me relembrou aquilo que eu, nesses tantos anos de viagem, sempre estive careca de saber… experiências são particulares e o que foi bom pra um, pode não ser igual pra você e vice versa. É preciso dar a chance. É preciso ver com seus próprios olhos para só então construir uma opinião.
Decidi quebrar a barreira, sair da zona de conforto do 5º arrondissement e me jogar, com a cara e a coragem nos braços do Arco do Triunfo, na euforia interminável da Place de l’Étoile, naquela que talvez seja área mais turística de Paris.
“Fique longe das áreas turísticas, onde os hotéis cobram preços extorsivos, os restaurantes são todos pega-turista e você não conseguirá apreciar a atmosfera real da cidade”. Uma ova! Sim, pode ser que alguns hotéis tenham um valor mais elevado. Sim, pode ser que você encontre um restaurante que sirva pratos medíocres por preços abusivos. Sim, pode ser que você esbarre com mil outros turistas (como você, afinal de contas!) entusiasmados pelas ruas. Pode, pode ser. E pode ser assim também no Quartier Latin, pode ser assim no Marais, pode ser assim em Montmartre ou pode ser assim em Saint-Germain. Não existe regra. Hotéis com bom custo-benefício estão espalhados por toda a cidade, restaurantes excelentes também… e os turistas? Eles são parte da tal atmosfera da cidade que você precisa conhecer! Eles são parte de Paris. Para que você tenha uma ideia, no primeiro semestre de 2016, quase 15 MILHÕES de pessoas se hospedaram na capital francesa. Ou seja, se a sua vontade é conhecer a cidade como ela realmente é, saiba que o turismo faz parte disso.
Pois bem… isso tudo pra dizer que acabamos de voltar de Paris e – surpresa! – eu me vi apaixonada pelo dia-a-dia nos entornos do Arco do Triunfo. Ali, na cara da Champs Élysées, palco célebre do turismo de Paris, aquele lugar onde – me fizeram crer – “local não vai, então não presta…”.
Ah, se eles soubessem dos passeios lindos que fizemos por ali, se soubessem dos restaurantes deliciosos (e com preço justo, hein?) que encontramos na região, se eles pudessem imaginar o quão valioso foi ver, da sacada do meu quarto (e de dentro da minha banheira), o Arco do Triunfo iluminado por toda a noite…
Tudo isso, pra dizer que, mesmo na quarta visita, Paris me surpreendeu e me apresentou facetas completamente diferentes – e como é incrível quando um “repeteco” transforma-se em uma viagem absolutamente nova!
Tudo isso pra dizer que eu levei 9 anos para descobrir que ficar em um hotel próximo ao Arco do Triunfo, à Champs Élysées, à Torre Eiffel, ao Coliseu de Roma ou ao Big Ben de Londres pode ser, sim, in-crí-vel! E que bobo é quem se priva disso porque Fulano falou que não é legal…
O que Paris me ensinou dessa vez? Muitas coisas! Dentre elas, que só devemos assumir como verdade os conceitos criados a partir das nossas próprias vivências e que mesmo esses, às vezes, merecem ser quebrados. Que uma cidade pode ser de mil maneira, a depender de quem, quando e como a visita. E por fim (mas não menos importante), que aquele papo de “áreas turísticas não tem boas opções”, definitivamente, é coisa de quem não sabe procurar.
QUEM ESCREVE
Formada em Cinema e pós-graduada em Jornalismo, já trabalhou como produtora cinematográfica, fotógrafa, redatora, assessora de imprensa...
Mas foi nas viagens - e contando sobre elas - que descobriu sua verdadeira paixão.
Desde 2014, é editora do Imagina na Viagem e consultora de turismo além, é claro, de uma viajante incansável nas horas vagas.
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