Viajar em excursão vale a pena?

Excursão é sempre um assunto polêmico… Tem quem defenda com unhas e dentes as viagens feitas através de agências de turismo e outros que preferem sempre ter o desenho do roteiro em suas mãos. Mas mesmo pra essa galera, em determinadas circunstâncias, viajar em excursão pode sim ser a pedida ideal. Aqui já viajamos das duas formas, e descobrimos que existem pontos positivos e negativos em cada uma delas, resta saber qual é o tipo de viagem que você pretende fazer, quais suas prioridades e preocupações.

Sou uma louca viciada em planejar viagens. Ponto. Dito isso, é natural que o mais legal para mim seja ter sempre absoluta liberdade para roteirizar nossas férias. Gosto de pesquisar nossos destinos, escolher com calma os hotéis, descobrir os passeios que mais fazem a nossa cabeça e organizar cada detalhe dos nossos dias. É um trabalho que leva tempo e requer dedicação… Mas mesmo gostando muito de fazer viagens por conta própria, em 2012, quando decidimos viajar pela Europa Central, optamos por uma excursão.

O principal fator que pesou nessa decisão foi a vontade de conhecer vários destinos somado a insegurança de dirigir em um local onde não dominávamos a língua. Isso, para nós, era uma grande preocupação na época. Uma possibilidade era usar o transporte ferroviário de uma cidade para outra, mas ficaríamos sem conhecer as charmosas cidadezinhas de interior pelas quais passamos. O que mais atendia as nossas prioridades e preocupações naquele momento era um pacote fechado no qual os translados seriam feitos em ônibus, com paradas estratégicas em cidades que estávamos loucos para conhecer, como Dresden e Cesky Krumlov. O roteiro compreendia nossos desejos e os translados nos eram cômodos. Essa foi a NOSSA razão para escolher entre viajar em excursão ou viajar por conta própria… Mas existem inúmeros outros motivos que podem influenciar na sua escolha. Listei alguns abaixo, na esperança de que ao final desse texto você consiga ter um pouco mais de clareza quanto a escolha que fará para sua viagem.

O GUIA

Um ponto super positivo – que descobrimos durante essa viagem – é a presença de um guia turístico, alguém que conheça a história das cidades incluídas no seu roteiro e possa lhe dar informações interessantes, lhe apresentar edificações e monumentos importantes, lhe falar sobre acontecimentos históricos da região e por aí vai… Estar em Praga com uma guia local – que falava português! – foi fantástico! Enquanto percorríamos as ruelas do Castelo de Praga, entendíamos as razões de sua importância histórica para a cidade, ouvíamos lendas que só os locais conhecem, descobríamos cantinhos intocados que, se sozinhos, jamais encontraríamos. No final do passeio, a sensação era de ter conhecido verdadeiramente a cidade, e não apenas passado por ela. Foi a partir daí que tornamos o City Tour uma programação tradicional em todas as nossas viagens, mesmo quando viajamos por conta própria. O guia também pode ser imprescindível para aqueles que tem muita dificuldade na comunicação em outras línguas, tornando a sua viagem bem mais tranquila nesse sentido.

O GRUPO

E falando de presença de guia… Que tal falar na presença de outros 50 viajantes ao longo das suas férias? Pra quem tem um estilo mais reservado isso pode ser um problema… As idas e vindas no ônibus são sempre uma grande farra, principalmente quando o grupo é formado por brasileiros. Hehehe… O café da manhã pode ser um tanto desorganizado, e os atrasos na programação por conta de um ou outro que se perdeu durante um passeio ou que não estava atento ao relógio e perdeu o horário podem ser realmente irritantes. Por outro lado, estar em uma excursão é estar cercado de pessoas que tem os mesmos interesses que você – afinal de contas, vocês escolheram a mesma viagem de férias, não? -, é estar perto de gente “de casa” até quando se está do outro lado do mundo, é a possibilidade de fazer novas amizades e – quem sabe – futuros parceiros de viagem! Se você está “aberto para novas amizades”, posso quase lhe garantir que será difícil terminar uma excursão sem alguns novos amigos… E se você curte uma bagunça, aí é certeza absoluta, você encontrará companheiros que não dispensam uma boa farra! Rs…

OS IMPREVISTOS

Uma questão que também deve ser levada em consideração é a disposição que você tem para lidar e resolver todo e qualquer problema que apareça. Se você decide viajar em excursão, é de se esperar que exista uma empresa de credibilidade por trás das suas férias que se responsabilize, assuma e resolva qualquer questão que por ventura venha a acontecer antes, durante e depois da sua viagem. Deu problema no sistema do hotel e a sua hospedagem não existe? Pode relaxar, certamente haverá uma equipe pronta a lhe atender, seja por telefone ou pessoalmente. Ou, na pior das hipóteses, se por alguma razão a viagem for um completo fiasco você pedirá o ressarcimento na volta. Quando se viaja por conta própria, a conta e risco é toda sua. Normalmente, é possível se antecipar aos problemas e – durante o planejamento – se cercar de todos os lados para evitá-los, mas às vezes imprevistos acontecem e nem o ser humano mais precavido do mundo é capaz de evitar. Nesses casos, saiba que é você e só você… Não tem empresa pra ajudar, pra jogar a culpa, ou pra pedir ressarcimento. É hora de gastar o cursinho de línguas (ou a mímica), o tempo e a paciência. A pergunta é: você tá disposto?

FINANCEIRAMENTE FALANDO

Em se tratando de grana, viajar em excursão tem suas vantagens e desvantagens. Embora o valor total da viagem em excursão seja – quase sempre – mais alto, a maioria das empresas que prestam esse serviço parcelam a perder de vista, o que pode ser um ponto importante para algumas pessoas. Quando fechamos as viagens por conta própria, o máximo que conseguimos parcelar são as passagens, e mesmo assim, dependendo da companhia aérea, o parcelamento não passa de 6x. Pagar os hotéis, passeios, translados em dólares ou euros de uma só vez pode ser bem complicado.

A INFLEXIBILIDADE DAS EXCURSÕES – HOTÉIS, DURAÇÃO, ETC

Além do valor final, existem outros pontos negativos a se considerar na hora de fechar a viagem. O que mais pesa por aqui é a inflexibilidade desses programas no que diz respeito a praticamente tudo! Rs… Hotel, passeios, duração da viagem. Em se tratando de hotéis, por exemplo, as agências de turismo costumam trabalhar com categorias. Isso é, você escolhe se quer ficar em hotéis de categoria turística, superior, luxo (ou qualquer denominação do tipo), mas não pode especificar – dentro das categorias – em qual hotel você gostaria de ficar. De modo geral, se você opta por um hotel em uma categoria melhor, acaba ficando em um quarto super hiper mega master legal, mas numa pééééssima localização. Só assim – renunciando a uma boa localização – as empresas conseguem manter preços razoáveis. E depois de algumas viagens no currículo, eu digo sem nenhuma sombra de dúvida, a localização da sua hospedagem tem enorme influência sobre as suas impressões finais sobre a cidade e a viagem como um todo.

A duração da viagem, como eu falei acima, também pode ser um problemão. Normalmente é possível aumentar o número de diárias apenas nas cidades nas quais as excursões se iniciam ou finalizam. Ou seja, se você vai fazer uma excursão com roteiro «Londres – Paris – Amsterdã – Berlin», esqueça a possibilidade de aumentar a quantidades em Paris ou Amsterdã. Essa rigidez do programa pode te deixar bem frustrado, já que na maioria das vezes a quantidade de dias é muito pequena para ver tudo o que você gostaria – principalmente em se tratando de Paris, hein?

A CORRERIA CANSATIVA

E a quantidade pequena de dias somada a quantidade grande de cidades, resulta no ponto negativo que mais incomoda a mim… A correria sem fim das excursões! É um tal de desarruma mala, arruma mala, desarruma mala, arruma a mala… Sem contar os dias em que os viajantes precisam acordas por volta das 5h da manhã para que o cronograma da viagem possa ser cumprido. Olha, depois de 15 dias, a vontade que se tem é de tirar férias para descansar das férias. Rs…

Como eu disse lá no começo, tudo vai depender das suas prioridades e preocupações:

1.Encontrou um programa que engloba as cidades que você quer conhecer?

2.A quantidade de dias em cada uma das cidades é suficiente para você?

3.Tá tão afim da viagem que nem liga pro hotel ou pra batida cansativa?

4.Tá sem muita grana pra investir agora mas um parcelamento cabe no orçamento?

5.Tem insegurança com a língua?

6.Vai ficar mais tranquilo e relaxado com alguém que resolva tudo por você?

Se você respondeu sim para a maioria dessas perguntas, talvez viajar em excursão seja sim uma boa pedida pra você! Pesquise com calma, procure por programas similares em outras empresas, faça as contas e então defina o que é melhor! Ah, e saiba que a maioria das empresas oferece a possibilidade de contratar apenas a parte terrestre da excursão, o que lhe permite cotar as passagens diretamente com as companhias aéreas e – quem sabe – economizar uma graninha. Vale a pena pedir os dois orçamentos – com e sem aéreo – para a agência, simular a compra das passagens nos sites das companhias aéreas que oferecem o trajeto e então calcular o que sai mais em conta.

O mais importante é saber que cada um é um, com necessidades distintas, expectativas diferentes, e não existe – nem vai existir nunca – uma forma de viajar que seja a melhor para todos. O que funciona para mim, nem sempre vai funcionar pra você e vice-versa. A louca do planejamento aqui já não consegue mais abrir mão de definir milimetricamente cada trechinho das viagens que faz – se fóssemos fazer aquela viagem da Europa Central hoje, ainda que as placas em tcheco continuem assustadoramente incompreensíveis, tenho certeza que faríamos por conta própria -, mas conheço vários viajantes bem mais experientes que eu que só viajam de excursão pois acham mais conveniente, mais tranquilo, porque gostam de viajar na companhia de outras pessoas ou porque – simplesmente – estão afim e ponto! Isso sim é o que importa.

De uma forma ou de outra, o que vale é curtir uma viagem legal e acumular lembranças inesquecíveis ao redor desse mundão.

QUEM ESCREVE

Formada em Cinema e pós-graduada em Jornalismo, já trabalhou como produtora cinematográfica, fotógrafa, redatora, assessora de imprensa...
Mas foi nas viagens - e contando sobre elas - que descobriu sua verdadeira paixão.
Desde 2014, é editora do Imagina na Viagem e consultora de turismo além, é claro, de uma viajante incansável nas horas vagas.

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4 Comentários

  1. Keila Faller
    23 de janeiro de 2019 em 12:25 — Responder

    Incrível esse texto. Super descontraído e sincero… de alguém que realmente entende sobre viagens!

    • 1 de fevereiro de 2019 em 11:39 — Responder

      Oi Keila! 🙂
      Puxa, fico muito feliz!
      Obrigada por sua visita e pelo comentário.

  2. Armando Lima
    14 de março de 2019 em 17:29 — Responder

    Marina,
    Parabéns pelo conteúdo, clareza da redação e envolvimento do texto. E muito obrigado por compartilhar conosco!
    Vou com minha esposa para o leste europeu em outubro e minha dúvida é exatamente esta… Excursão ou não; incluir Croácia e Ilhas Gregas ou não… Um abraço,
    ARMANDO.

    • 4 de abril de 2019 em 19:48 — Responder

      Oi Armando, tudo bem?

      Hoje em dia, eu prefiro as viagens livres de excursão. Não abro mão da liberdade de montar meus roteiros. Depois que você faz sua viagem por conta própria pela primeira vez – e descobre que não é um grande bicho de sete cabeças – é bem difícil voltar atrás. Mas isso é bastante pessoal… conheço muita gente que gosta da praticidade e se sente mais seguro ao viajar com um grupo – e nunca sequer pensou em fazer diferente. Acho que só você pode definir o que é melhor no seu caso.

      Quanto a incluir ou não a Croácia e as Ilhas Gregas, a decisão deve considerar, basicamente, quantos dias você tem para essa viagem e a época do ano que pretende ir. 🙂

      Espero ter ajudado.
      Abraços e excelente viagem pra vocês.

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